Nota política: 1º de Maio no Rio mostrou contradições da frente governista
A presença do bloco de esquerda no primeiro de maio foi uma lembrança da importância de se romper com a lógica neoliberal e enfrentar o fascismo com um programa que atenda as necessidades da classe trabalhadora

Nota política do PCBR no Rio de Janeiro (RJ)
O primeiro de maio de 2025 teve um clima de ofensiva da classe trabalhadora. Após anos fora da ofensiva, estivemos nas ruas, ocupamos shoppings e fizemos paralisações por todo o Brasil pelo fim da escala 6x1. Esse contexto norteia nossa intervenção na realidade.
No Rio de Janeiro, em Madureira, o dia foi marcado pela festa dos patrões organizada pela prefeitura que impulsiona a política neoliberal de empreendedorismo ao invés de, no mínimo, alguma luta pelo fortalecimento dos direitos trabalhistas.
É impossível ignorar o caráter repressivo da prefeitura do Rio entre a aprovação do armamento da guarda municipal, o flerte com a política de segurança do governo de Nabyl Bukele, em El Salvador, e os ataques à educação pública com a PLC 186/2024.
Houve também um ato na Cinelândia, convocado pelo Movimento VAT em conjunto com CUT, CTB, Frente Brasil Popular e Frente Povo Sem Medo. O ato teve como tema central o combate à escala 6x1, com eventos culturais intercalados com as intervenções das forças.
Diante desse cenário, nos reunimos em nosso comitê de lutas pela redução da jornada de trabalho, que construímos em conjunto com CST, PSTU, OCI, Emancipação Socialista e MRT, no dia 12/04. Nessa data, aprovamos por consenso a nossa participação como bloco independente no ato convocado pelo VAT, pautando o fim do Arcabouço Fiscal e das contrarreformas trabalhista e previdenciária, com agitações preparatórias nas semanas anteriores ao primeiro de maio.
Ainda que soubéssemos da presença das forças governistas na organização do ato, reduzindo a politização do evento e se utilizando dele para agitar as pautas do Governo Lula-Alckmin, entendemos coletivamente que o momento era de demonstrar força contra a escala 6x1 no ato convocado pelo Vereador Rick Azevedo - mesmo que em conjunto com as centrais governistas, que foram arrastadas para esta luta e agora agem para institucionalizá-la. Compreendendo esse caráter despolitizante que a organização do ato estava querendo impor, entendemos que era necessário marcar presença tanto na plenária de construção (16/04) quanto no ato em si (01/05), dando destaque à urgência de combater o Arcabouço Fiscal e a precarização do trabalho promovida pelas contrarreformas.
Quatro dias após nossa plenária do dia 12/04, e horas antes do início da plenária convocada pelo VAT e as centrais governistas para organizar o ato de 1º de maio, o MRT manifestou que não deveríamos mais comparecer ao ato convocado pelo VAT, uma vez que estava sendo chamado em tom despolitizado e festivo junto a centrais sindicais cuja atuação concreta não condiz com a luta contra a 6x1. Nos dias seguintes, em reunião, convidamos o MRT a uma rodada de debates, para que pudéssemos aprofundar a linha e manter a unidade de ação do nosso bloco, mas sua posição já estava fechada. Assim, o MRT preferiu não debater e não comparecer ao ato, enviando apenas correspondentes do Jornal Esquerda Diário ao local. Em nota crítica às organizações do nosso comitê, expôs seu posicionamento, criticando que participássemos do ato pelos motivos já expostos. Saudamos o exercício de polêmica pública promovido pelo MRT; igualmente, reforçamos também a importância de renovar a confiança no debate dentro dos espaços que construímos conjuntamente. Consideramos que a crítica sobre o ato feita pelo MRT necessitava de uma proposta alternativa à altura do desafio apresentado - e que não foi feita. Havia a possibilidade de intervenção formando o bloco com independência de classe e com agitação crítica fortalecida. Entretanto, o MRT optou por uma presença tímida, enfraquecendo a atuação do bloco independente.
Nós, do PCBR, nunca fomos ingênuos de esperar uma atuação com independência de classe por parte da frente governista. Assim, participamos de forma independente e crítica da plenária preparatória e do ato de 1º de maio organizados pelo VAT e pelas forças governistas. Em ambos os espaços, cumprimos o papel de tensionar contra o caráter festivo que se queria impor ao evento, disputando as pautas essenciais para a classe trabalhadora que o Governo quis tirar do primeiro de maio: A luta contra o arcabouço fiscal e as contrarreformas trabalhista e da previdência. Na plenária ocorrida em 16/04, disputamos a inclusão desses temas nos motes do 1º de maio, e a mesa precisou interromper os trabalhos e fechar a plenária com o propósito de evitar que o debate acontecesse, uma prática que tem sido comum das frentes governistas.
Em 2024 e 2025, o PCBR se dedicou a denunciar em seu jornal os abusos praticados pela burguesia contra a classe trabalhadora em nome de aumentar seus lucros. E, ao longo do mês de abril, as agitações se intensificaram. Aqui, no Rio de Janeiro, em 26 de abril, fizemos um ato dentro do Norte Shopping, dialogando diretamente com trabalhadoras e trabalhadores que sofrem com a escala 6x1 e a precarização das condições de trabalho.
No dia primeiro de maio, como era esperado, a presença do nosso bloco causou incômodo aos organizadores do evento, que planejaram um dia de showmício com rebaixamento de pauta e propagandas eleitoreiras antecipadas. A organização do ato elaborou um cronograma que privilegiou falas e espaços aos parlamentares e tentou ativamente silenciar vozes que fossem contrárias. Nossa camarada Vitória Dias, diretora de Universidades Públicas da UNE, não teve direito à fala. Já nosso camarada Gustavo Pedro teve sua fala diretamente interrompida em plena Cinelândia por Rick Azevedo, que ligou seu microfone para dizer “deixa o trabalhador falar”, e interrompeu o companheiro Adriano Dias na intenção de deslegitimar o PCBR, a CST, e todo o bloco de esquerda naquele espaço, criando uma falsa dicotomia ao colocar que militantes em oposição ao governo não são trabalhadores!
Cabe ressaltar que, embora os entraves burocráticos e cerceamentos de fala por parte do campo democrático-popular já sejam de praxe, nos causou espanto o tamanho desrespeito de Rick Azevedo com o bloco de organizações que historicamente lutam pela redução da jornada e, nos últimos anos, em conjunto com o VAT, deram sustentação à luta contra a escala 6x1 desde que ela emergiu, em todos os estados deste país. O próprio conteúdo da fala de Rick Azevedo, apresentando-se como único trabalhador legítimo para falar naquele espaço, expressa um profundo personalismo e desrespeito ao conjunto da militância que luta pela redução da jornada de trabalho.
O movimento VAT, que hoje se alinha à ala direita do PSOL, rebaixa as lutas da nossa classe ao não pautar o Arcabouço Fiscal e as contrarreformas trabalhista e previdenciária como medidas necessárias para dar concretude ao próprio fim da escala 6x1 e a redução de jornada. Em um contexto de liberação geral da pejotização pelo STF, esvaziamento da CLT e ataques à Justiça do Trabalho, a bandeira pelo fim da escala 6x1 não pode ser agitada de forma genérica, desconectada dos ataques que a classe trabalhadora vem sofrendo na sua rede de proteção social conquistada com as lutas de muitas gerações.
Toda essa sequência de acontecimentos demonstra que a presença do bloco de esquerda na construção do primeiro de maio constrangeu as forças governistas pelo fim da política de corte de gastos e pelo cumprimento da promessa de Lula de revogar as contrarreformas.
A presença do bloco de esquerda no primeiro de maio foi uma lembrança da importância de se romper com a lógica neoliberal e enfrentar o fascismo com um programa que atenda as necessidades da classe trabalhadora; um constrangimento ao governo que se declara de esquerda enquanto realiza o maior pacote de privatizações da história da República, incluindo escolas, praças e presídios.
Pelas razões descritas aqui, consideramos como positivo o balanço de estarmos presentes na Cinelândia - e que poderia ter sido melhor se tivéssemos um bloco de oposição completo. Compreendemos que nossa militância cumpriu a tarefa que este 1º de maio nos exigiu. Não estivemos inertes observando os parlamentares ou paralisados pelo showmício. O PCBR esteve no ato do Rio de Janeiro, do início ao fim, promovendo uma forte agitação, divulgando nosso canal de denúncias das mais diversas explorações no trabalho, jornais que mostram as lutas da classe trabalhadora e com gritos que tiveram apoio dos trabalhadores e deixaram a frente governista acanhada. Trouxemos as pautas essenciais para a classe trabalhadora carioca e brasileira desde as reuniões preparatórias do ato e rompemos com o clima de festa que as forças capitalistas historicamente tentam impor ao 1º de maio.
É força, ação! Não tem conciliação! Partido comunista é para fazer revolução!