Atualização sobre a Tempestade Al-Aqsa: dia 656
Relatos de tortura, abusos sexuais, desaparecimentos e negligência médica contra detidos de Gaza foram relatados em prisões israelenses. As denúncias citam agressões graves, más condições e desaparecimentos forçados.

Comissão prisional relata abusos da ocupação no cárcere
A Comissão de Assuntos de Prisioneiros e Ex-Prisioneiros e o Clube dos Prisioneiros Palestinos divulgaram nesta quarta-feira (24) uma série de testemunhos que denunciam tortura, desaparecimentos forçados, privação de alimentos, negligência médica, abusos sexuais e violência psicológica contra palestinos detidos na Faixa de Gaza por autoridades israelenses. As denúncias se referem a diversos centros de detenção, incluindo prisões e campos militares, e representam apenas uma pequena parte dos inúmeros casos documentados desde o início do conflito.
Os relatos incluem agressões físicas severas, privação de cuidados médicos e condições degradantes de encarceramento. Em um dos depoimentos, um detido identificado pelas iniciais M.Y. afirma ter sido preso em fevereiro de 2024 e transferido por diversos centros de detenção, como o campo de “Sde Teiman”, uma instalação próxima a Jerusalém, a prisão de Ofer e, por fim, a prisão de Negev. Durante esse período, foi submetido a diversas formas de tortura. “Mesmo após ser transferido para Negev, jogaram água fervente no meu corpo”, disse. Segundo ele, 27 pessoas estão abrigadas em tendas sob condições extremamente duras, com agressões diárias, racionamento extremo de alimentos e ausência total de assistência médica. “A comida é intragável, então jejuamos e juntamos tudo para uma única refeição no fim do dia”, afirmou, acrescentando que muitos presos sofrem com sarna devido à falta de higiene e medicamentos.
O mesmo detido relatou ainda ter sido despido à força e obrigado a ingerir álcool durante o período em que esteve detido em um campo militar na região próxima a Jerusalém. Ele também afirma ter sofrido uma lesão grave na cabeça após ser atingido por um objeto cortante, ferimento que permaneceu com grampos metálicos por quase quatro meses e evoluiu para uma infecção no couro cabeludo.
Outro testemunho, do detido identificado como H.N., preso em dezembro de 2024, descreve como foi informado por um interrogador que sua família havia sido morta por forças israelenses. A notícia provocou uma tentativa de suicídio em sua cela, interrompida por outros detentos. Meses depois, durante uma visita de advogado, soube que seus familiares estavam vivos. “Chorei sem parar, não consegui acreditar”, relatou.
H.D., preso em outubro de 2024, afirma ter passado 110 dias em solitária antes de ser transferido para a prisão de Negev. Segundo ele, os detidos são submetidos a inspeções diárias, agressões físicas, humilhações e longos períodos de fome. “Vivemos sob medo constante. Nos obrigam a ajoelhar com as mãos para trás durante as revistas. As doenças se espalham, e não recebemos nenhum tipo de tratamento”, afirmou.
Outro detido, A.W., diz ter sido preso em fevereiro de 2024 em uma escola em Khan Yunis. Segundo ele, durante uma das transferências, foi atingido na cabeça pelas próprias algemas, o que teria provocado perda significativa de visão no olho esquerdo, dores constantes e desequilíbrio. Ele também afirma ter contraído sarna, agravada pelas condições de insalubridade nos centros de detenção.
Em outro relato, Kh.Y., preso em dezembro de 2023 em uma escola no bairro de Shuja’iya, afirma ter tido a perna quebrada por espancamentos durante sua prisão. “Não recebi nenhum tratamento. Nem mesmo analgésicos. Sinto dor o tempo todo e tenho dificuldades para andar”, disse. Já H.R., preso em outubro de 2024 em Rafah, descreve ter sido atacado por um cão policial após ser despido durante o interrogatório. Posteriormente, afirma ter passado por diferentes tipos de interrogatório e permanecido quatro meses em regime de isolamento na unidade de Al-Maskubiya. Na semana anterior à coleta do depoimento, afirmou ter sido espancado com cassetetes.
É impossível saber ao certo quantos palestinos de Gaza estão detidos, devido à prática sistemática de desaparecimentos forçados. Estimativas apontam que milhares estão sob custódia, sendo que os testemunhos dos detentos de Gaza são considerados os mais graves em termos de abusos sofridos. Segundo dados do Serviço Prisional de Israel, havia 2.454 palestinos da Faixa de Gaza classificados como “combatentes ilegais” sob custódia até o início de julho de 2025 – o número mais alto registrado desde o início da ofensiva. O número não inclui os detidos em instalações militares.
As autoridades ocupantes criaram novos centros de detenção destinados exclusivamente a prisioneiros de Gaza, entre eles os campos de “Sde Teiman”, “Anatot”, “Ofer”, “Naftali” e a ala “Rakevet” da prisão de Ramleh. A maior parte desses detidos está hoje nas prisões de Negev e Ofer. Segundo as organizações palestinas, a chamada “Lei do Combatente Ilegal” é usada como justificativa legal para manter prisioneiros por tempo indeterminado e em condições ilegais sob o direito internacional, facilitando, segundo elas, o uso sistemático de tortura.
A Comissão de Assuntos de Prisioneiros e Ex-Prisioneiros e o Clube dos Prisioneiros afirmam ainda que os abusos cometidos contra os detentos constituem uma das expressões mais brutais da violência do atual conflito. Para as entidades, a continuidade dos abusos expõe a fragilidade das instituições internacionais de direitos humanos diante da situação.
Comunicado do Ministério da Saúde
Relatório estatístico periódico sobre o número de mártires e feridos devido à agressão sionista na Faixa de Gaza:
Os hospitais da Faixa de Gaza registraram 89 mártires e 457 feridos, como resultado da agressão israelense na Faixa de Gaza nas últimas 24 horas.
Um número considerável de vítimas ainda está sob os escombros e nas ruas, e as equipes de ambulância e defesa civil não conseguem alcançá-las.
O total de mártires da agressão israelense subiu para 59.587 e 143.498 feridos desde o 7 de outubro de 2023.
O número de mártires e feridos desde 18 de março de 2025 atingiu 8.447 mártires e 31.457 feridos.